quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BRINCANDO.........GRANDE FINAL

Composição atual: 40% estatal, sendo 32% diretamente, e 8% através do BNDES, igualmente uma empresa do estado, o que vem dar na mesma.
Com o valor de 8,51, o valor da reserva (42,5 US$bi) é tão grande que permite a união subscrever o que lhe cabe sem aportar nenhum centavo em dinheiro vivo. Se, por hipótese, todos os acionista exercerem o seu direito de preferência — estabelecido pela assembléia da Petrobras sobre o limite de 87 bilhões — caberia a união — no máximo — 35 bilhões (40% de 87 bilhões). Aos demais acionistas caberia o restante, ou seja, 52 bilhões e a operação de capitalização da Petrobras seria tranqüila.
Mas o governo — pressionado pelo ambiente eleitoral — quer aumentar a participação estatal e a capitalização fica comprometida.

Ante a perspectiva de subscrever o excedente de 10 US$bi os demais acionistas só poderiam subscrever 10 US$bi a menos em dinheiro, uma vez que o montante é fixo. Isso, se nada de extraordinário acontecer, como, por exemplo, a incapacidade dos pequenos investidores ou a desistência voluntária dos grandes, que já vem sendo manifestada pela venda das ações do multimilionário Soros.

Por outro lado é um valor que não condiz com a perda de interesse pela exploração em mar profundo, depois da demorada exposição do vazamento no golfo do México. Não condiz tambem com o fraco desempenho das ações da empresa em queda de quase 30% desde janeiro.

Sem aportar nada a União chega ao dia do lançamento com participação de 50%. Como o limite de 87 US$bi dificilmente será atingido, a união poderá chegar a data do lançamento com participação maior do que 50%.

Ante a possibilidade de utilizar o Fundo Soberano, a participação da União facilmente alcançará 60%. Ato final: o governo recorre às reservas para solucionar o impasse e adquirindo as sobras. Resta saber se existirá patriota em número suficiente para acreditar no retorno da estatização da Petrobras, colocando seu rico dinheirinho como acionista da grande empresa “orgulho do Brasil”.

Segundo Adriano Pires, o aumento da participação acionária e da disponibilidade de dinheiro da Petrobras, não pode ocorrer simultaneamente porque são objetivos conflitantes. A realização de um impede a do outro.
Se a intenção do governo for aumento da participação, a operação de lançamento é desnecessária. Basta realizar uma operação normal de mercado que acontece todos os dias, sem que a empresa tome conhecimento do fato. As ações apenas trocam de dono sem nenhum aporte de dinheiro para a empresa. Neste caso é o governo que aporta recursos em dinheiro do Fundo Soberano, Caixa e BNDES.

Se a intenção for aumento da disponibilidade de dinheiro, a operação de lançamento é necessária. Basta aceitar o valor calculado pela Petrobras — que conhece bem as dificuldades da extração — e a meta de capitalizar a empresa seria plenamente atingida. Neste caso, é o setor privado que aporta recurso em dinheiro e a composição acionária é mantida.

O que não pode acontecer é a manobra de “forçar a barra” com um valor excessivo do valor das reservas de 42,5 US$, que deixaria os demais acionistas de exercer seus direitos legítimos, sem opção de manter, caso o desejassem, a participação de 60% que desfrutam atualmente. Alem do mais representa uma atitude de profundo desrespeito para com os acionistas minoritários, inclusive os cotistas dos fundos de pensão e FGTS.

Não é possível saber “a priori” qual vai ser o interesse do capital privado no dia do lançamento, previsto para dia 30 de setembro. Nem se o limite máximo será atingido. Se o aporte voluntário dos demais acionistas for menor, a participação estatal aumenta na proporção inversa da desistência do acionista privado. Neste caso, existirão sobras que a União poderá, se quiser subscrever sem nenhum constrangimento para acionistas minoritários.
Enfim, os riscos são grandes, segundo Adriano Pires: mais governo na Petrobras que acabará se tornando uma imensa Yacimento Petrolifero Fiscales

BRINCANDO.....CAPITALIZAÇÃO DA PETROBRAS

2º Ato: CAPITALIZAÇÃO DA PETROBRAS

O Brasil não é nenhuma empresa imobiliária que precise ter a posse de seus recursos naturais. Já os tem tem em abundância, cuja posse é consagrada pela constitucão.
“O mercado de petróleo e a própria Petrobras já são suficientemente atraentes para a captação de recursos privados, não sendo necessário o governo capitalizar a empresa com recursos públicos. Melhor seria utilizar os instrumentos tradicionais do mercado de capitais para que a população venha a investir na Petrobras” (Adriano Pires).
A capitalização da Petrobras é uma operação financeira normal no mercado, mas fica mais atraente ainda se contar com a proteção do estado. Especialmente recursos públicos, em particular de recurso privado administrado pelo estado, do qual os trabalhadores são credores (FGTS) e fundos de pensão dos próprios trabalhadores da Petrobras, da Caixa Econômica e Banco do Brasil.
Se aceitasse o valor calculado pela Petrobras o objetivo de capitalizar seria facilmente alcançado com um ligeiro aumento do controle acionario, mas poderia ocorrer diminuição da participação, dependendo do apetite demais acionistas. Ora, é burrice aumentar a participação em uma empresa da qual a união já tem controle acionário. Basta mantê-lo. Quanto maior o valor da reserva menor a entrada em dinheiro por parte dos demais acionistas para completar o teto de 87 bilhões.
Em um mundo paralizado pela crise, o Brasil é o 3º mercado mais atrativo para investimentos dos PI e emergentes. As grandes reservas de petróleo estão nas mãos de empresas estatais em sua maioria se encontram nos dos países pobres. Empresas de petróleo ha muito estão em decadência nos países industrializados que não mais se interesam pela exploração de petróleo, coisa de país atrasado. O que mais lhes interessa é o fornecimento de tecnologia para exploração.
Países emergentes têm interesse em participar para garantir suprimento. A China, por exemplo, já adiantou 10 bilhões de dólares em empréstimo à Petrobras, garantido por contratos de fornecimento futuro de petróleo.
Durante muitos anos a Petrobras nunca atingiu o propósito para o qual foi criada. Quando o país mais necessitava de petróleo — para ter uma matriz energética diversificada — a Petrobras administrava o monopólio como empresa distribuidora de combustíveis refinados internamente, único exemplo no mundo de empresa monopolista de um produto importado. Só foi atingir a auto-suficiência quando já era uma empresa anciã de quase 50 anos. Externamente foi muito bem sucedida em encontrar petróleo em outros países, associada a outras multinacionais.
Coincidência ou não, não vem ao caso, depois de 1998, com a retirada do monopólio e abertura do capital a Petrobras se transformou numa empresa multinacional de sucesso — conceituada no mundo todo pela sua eficiência — com ações negociadas nas principais bolsas. Foi aí que descobriu o Pré-sal, associada a outras multinacionais.

Com um mínimo de capital imobilizado pela compra das reservas a União já é majoritária. Imobilizar mais capital com reservas supervalorizadas restringe a participação do capital privado em dinheiro.
A Petrobras, como empresa multinacional deseja um valor baixo para as reservas em torno de 30% do limite de 87, estabelecido pela assembléia dos acionistas. Um mínimo de 27 bilhões (~5 US$/barril) já garante maioria. O restante, 60 bilhões, seria o aporte em dinheiro dos demais acionista.
Se quizer manter a participação atual de 40% bastaria o aporte de 35 bilhões ( ~7 US$/barril) . O restante, 52 bilhões, seria o aporte em dinheiro dos demais acionista.

BRINCANDO.....(DES) CAPITALIZAÇÃO DA PETROBRAS

1º Ato: (DES) CAPITALIZAÇÃO DA PETROBRAS
Apesar de ser um erro realizar a capitalização no dia 30 de setembro, como afirma Adriano Pires, o governo poderia fazê-lo, para surpresa de muitos.
Uma vez configurada a vitória no 1º turno — antes mesmo que termine o prazo de 30 de setembro — o presidente pode causar surpreza: aceita um acordo bem próximo da avaliação da petrobras para evitar perdas maiores das ações da Petrobras, diante da desconfiança de investidores de maior estatização da Petrobras.

Já pode desvencilhar das incômodas companhias ideológicas e direcionar sua pupila para evitar maiores devaneios. O que mais deseja é vingar de FHC pelo sucesso alcançado na privatização em 1998 e realizar o feito de ter uma empresa multinacional com cobertura do estado, como operadora única nos novos campos do pré-sal.

O que interessa no momento é a empreza receber dinheiro vivo de acionistas para acelerar a produção de petróleo e gas de áreas já delimitadas.

Uma vez consumado o efeito eleitoral e garantida a eleição no 1º turno, o governo já pode — mesmo antes de 30 de setembro — fechar acordo com a Petrobras em torno do valor que será utilizado na cessão onerosa dos 5 bilhões de barris, cujo preço poderá será “negociado” no entorno de 6 dólares o barril. Mais uma bandeira roubada da oposição que não soube defendê-la publicamente.

O presidente não hesitaria em em fazer acordo — mesmo a custa do contribuinte — porque sabe perfeitamente que precisará da participação do capital extrangeiro para levar a cabo a difícil empreitada da exploração do Pre-sal. Sabe que a Petrobras não tem recurso suficiente para iniciar a exploração de áreas ja perfeitamente delimitadas e seguras.
Ao conceder privilégio aos acionistas privados — à custa do contribuinte — o presidente está seguro de atrair capitais do mundo todo para exploração de áreas já delimitadas. Em áreas ainda não licitadas do pré-sal tem amplas condições de manobra na condição de operadora única (mínimo de 30%), cuja exploração menos interessante nada impede que seja entregue a outras empresas.

A Petrobras, que já é uma empresa multinacional acima do estado, tem a propriedade singular de ser tambem estatal. Apesar de minoritário no cômputo geral, o estado controla a empresa pela maioria de ações com direito a voto. Se a empresa se capitalizar a união (nós) vai ter aportar recursos para manter ao menos a condição de controlador.

Para a Petrobras não poderia ser melhor: uma empresa (que já é) multinacional, acima do estado, controlada pelo estado com poder de associar ou delegar a outras empresas multinacionais campos menos interessantes do futuro Pré-sal.

Ao fazer isso nos últimos três meses de governo, o presidente estaria delimitando os primeiros passos de sua pupila contra possíveis devaneios, bem como se vingando de FHC pelo grande sucesso alcançado na privatização da Petrobras em 1998. É tudo que o presidente poderia almejar:
“administrar uma empresa multinacional garantida pelo estado, como as chinesas, com um mínimo de participação acionaria com poder de voto (32.7%)”.

BRINCANDO NOS CAMPOS DO PRÉ-SAL

Ópera bufa em 3 atos.
ABERTURA
Ninguem mais que pense seriamente sobre o assunto acredita no retorno da Petrobras às mãos de políticos inexperientes e velhos gagás que já perderam o contato com a vida moderna. Configurada a vitória, Lula e Dilma já devem estar pensando em como se livrar das incômodas “cracas” aderentes ao casco do grande navio.

O presidente, inteligente como é, Já poderia se desvencilhar das incômodas companhias ideológicas e direcionar sua pupila para evitar maiores devaneios. O que mais deseja é vingar de FHC pelo sucesso alcançado na privatização em 1998 e realizar o feito de ter uma empresa multinacional, acima do estado, com cobertura do estado, como operadora única nos novos campos do pré-sal: quer ser “mais realista que o próprio rei”.

O que interessa no momento é a empreza receber dinheiro vivo de acionistas para acelerar a produção de petróleo e gas de áreas já delimitadas.

Uma vez consumado o efeito eleitoral e garantida a eleição no 1º turno, o governo já poderia — mesmo antes de 30 de setembro — fechar acordo com a Petrobras em torno do valor que será utilizado na cessão onerosa dos 5 bilhões de barris, cujo preço poderá será “negociado” no entorno de 6 dólares o barril. Mais uma bandeira roubada da oposição que não soube defendê-la publicamente.
Mas, o presidente não é nenhum ser ideológico. Antes de tudo é um “caudilho sindicalista”, forjado nas lutas trabalhistas da indústria automotiva, como força auxiliar da transição, de maneira semelhante aos seus colegas americanos, que jamais puseram em cheque a verdadeira empresa capitalista.
Mas, prevalece o interesse de vencer as eleições e o velho instinto pragmático de “Robin Wood”, protetor dos pobres e oprimidos, cujos interesses tem por meta defender. Vai re-estatizar empresas privatizadas (Petrobras, Eletrobrás, Telebrás), como tem prometido, porque é delas que vem os impostos necessários à distribuição (forçada) de renda é nelas que estarão os cargos a serem preenchido pela “cupinchada”.
* Quem quer, vai. Quem não quer, manda. O presidente não faz questão de um preço menor, em torno de 6 US$/barril, mas não quer desagradar nacionalistas declarando isso. O sucesso eleitoral está garantido, mas o fiasco do lançamento permanece. Tem pressa na capitalização para evitar o desgaste com a queda das ações da Petrobras no mercado que hoje, atingiram mais de 4% e já deve passar de 30% desde janeiro,

CARROS ELÉTRICOS?

Carros elétricos: economia e meio ambiente


Hugo Siqueira


Uma quimera a ser vendida como “novidade tecnológica” aos países em desenvolvimento.


Chineses, alemães, americanos, franceses, etc., tentam a todo custo vender uma tecnologia para a qual não dispõem de condições de ser aplicada nos seus respectivos países. Faltam-lhes os meios materiais de produzir, de modo barato e limpo, os componentes necessários: alumínio, hidrogênio, lítio. Sobretudo, falta o essencial, pois a energia para acionar carros elétricos teria de provir de outras fontes mais caras e poluentes, algumas delas termoelétricas a vapor, inclusive nucleares, que utilizam caldeira de baixíssimo rendimento, verdadeira “reminiscência arqueológicas” da era industrial. Alem de não resolver o problema de emissão em âmbito global a adoção da nova tecnologia é onerosa. Do ponto de vista local é desnecessária, pois há muito que o automóvel deixou de ser o grande poluidor das grandes cidades americanas e européias.


Alem da necessidade de locomoção ser naturalmente reduzida numa economia de serviços, conta com a eficiente estrutura herdada do industrialismo. O mercado está saturado com mais de um carro por habitante e o consumo de combustíveis está declinando por mudanças de hábito para carros mais econômicos. Continuam grandes emissores globais, cuja dependência de petróleo reluta em substituir por outra: a dependência dos combustíveis alternativos.


Países em desenvolvimento


Mas por que num país como o Brasil, especialmente privilegiado por condições naturais, a opção por carros elétricos não vinga? Criado inicialmente para reduzir a dependência do petróleo o etanol brasileiro acabou contribuindo de forma inesperada para a redução da emissão de gás carbônico e da contaminação por chumbo, ambas de âmbito global. Mas constitui um grande equívoco imaginar que todos os problemas estejam resolvidos. Do ponto de vista local os carros a álcool continuam poluindo tanto quanto os carros a gasolina.
Em âmbito local, a poluição -- que foi problema de países industrializados -- ocorre atualmente com maior intensidade nos países em desenvolvimento cujas cidades são as que mais crescem. Com o crescimento desordenado das grandes cidades a qualidade do ar vem se deteriorando e a preocupação com as emissões de gazes em âmbito local abre possibilidades concretas para o veículo elétrico.


Política suicida


Para um país que tradicionalmente emite pouco a substituição de parte da frota por carros elétricos pode ter pouco significado, uma vez que o remanescente — constituído por veículos a álcool — continua emitindo gazes poluentes em âmbito local. Curioso que um país dos mais bem aparelhados para utilização de carros elétricos não consiga ao menos aliviar o problema de circulação de veículos nas grandes cidades. Isso se deve a causas estruturais da economia provocadas por políticas suicidas: subsídios prolongados ao combustível aliado à penalização excessiva das tarifas de energia. Ao proceder assim o país está seguindo uma política exatamente o contrário da China. Subsidiar transporte e produção de comodities pode tornar alimentos mais baratos ao trabalhador, mas não produz empregos relevantes na agricultura e mineração que utiliza meios tecnológicos. Ao contrário, penalizar a produção industrial por meio de tarifas elevadas reduz a concorrência do país, justamente nas indústrias mais ocupadoras de mão de obra: alimentos, têxteis e manufaturas. O grande sucesso atribuído ao agro-negócio e mineração se deve aos subsídios ao combustível (álcool, diesel e gasolina) que tanto criticamos quando praticado pelos países industrializados. Estamos, sem o saber, ganhando a batalha, mas perdendo a guerra para os chineses e indianos.
Um exemplo bastante elucidativo ocorre no setor de consumo doméstico de eletricidade: somos lenientes com o uso de dispositivos anacrônicos como os chuveiros elétricos que foram induzidos pelo “mito” da eletricidade barata. Julgamos estar protegendo o trabalhador considerando o custo ridículo do equipamento (o chuveiro elétrico). Entretanto, segundo cálculo do Professor Goldemberg (Energia para o Desenvolvimento), o custo de capital do suprimento de energia equivalente, para o país como um todo, é cerca de três vezes maior. Se o suprimento fosse por aquecedores a gás, a economia para o consumidor seria de 50% e o custo de capital seria 1/5 do custo do tão propalado “aquecedor solar”, conforme demonstrado nos “PSs” abaixo:


1º PS: Você toma um banho de 10 minutos num chuveiro de 6 mil Watts consumindo 1 Kwhora e paga uma conta de 0.45 x 1 ou 0.45 R$/banho.
Se o chuveiro fosse a gás (gasolina) pagaria 0.21 x 1 ou 0.21 R$/banho
Uma economia de 50% em relação ao consumo de eletricidade.
Nota: O aquecedor a gás custa 1/5 do aquecedor solar. Foi o mito da hidroeletricidade barata que perpetuou o uso dos anacrônicos chuveiros elétricos. Qual a razão de tanto encargo sobre energia que é fundamental para produção de bens básicos?


2º PS: Projetei um grupo gerador de reserva para um hospital e fiz a seguinte recomendação: “ligar o gerador a diesel e deixar a Cemig na reserva”. Sai muito mais em conta. Se as empresas praticassem esse tipo de informalidade e fizessem o mesmo certamente ganhariam dinheiro (provavelmente já estejam fazendo).


Entretanto, existem vantagens econômicas além da redução das emissões de âmbito global e local:


Nos países, como o Brasil, em que hidroelétricas são predominantes, a tecnologia é mais eficiente e a energia tem custo menor. Ainda que seja apenas uma transferência para locais distantes, onde se situam as fontes geradoras de eletricidade, a substituição de parte da frota por carros elétricos já representa alguma vantagem. Ao trocar o combustível dos carros pela eletricidade o Brasil tem condições de melhorar as condições locais sem aumento das condições globais.


Dispõe de energia elétrica barata como fonte e insumo para a fabricação dos seus componentes, como baterias leves de lítio e alumínio para tornar menos pesadas as carrocerias dos carros elétricos. Para essa finalidade poderá contar com a eletrólise da corrente elétrica produzida por usinas hidroelétricas extremamente baratas como as que são construídas ao preço de 8 centavos/Kwhora no Rio Madeira e Xingu. Tem amplas margens de reduzir tarifas excessivas ou torná-las quase gratuita no processo de carga noturno.


Carros demais e caros demais


O grande problema dos automóveis nas grandes cidades não está na poluição por eles produzida, pois a maioria deles está parada nos estacionamentos, nas garagens das residências ou mesmo no trânsito por absoluta falta de usuários.


A maior parte da poluição local é causada por veículos diesel, durante muito tempo subsidiado pelo poder público. Aliás, foi o subsídio prolongado ao diesel que provocou distorções na escolha do veículo adequado ao trânsito das grandes cidades, que poderia ser feito por veículos leves, a gasolina como acontece nos Estados Unidos. O subsídio prolongado leva o usuário a falsa impressão de que o motor a diesel é mais barato, quando na realidade é um motor pesado de alto custo de capital e consumo ao país como um todo.


Foi o subsídio que levou ao chamado “clube da D 20” e dos carros esporte a diesel, verdadeiro palácio ambulante utilizado por pessoas de posse nas grandes cidades. Se realmente for intenção do governo restringir o uso de veículos nas grandes cidades, basta aumentar o custo, pelo aumento do combustível, que constitui medida mais democrática do que reduzir a circulação através do rodízio.


O subsídio prolongado foi tambem responsável pelo trânsito de caminhões em detrimento do transporte ferroviário.


O subsídio e os baixos encargos sobre a gasolina são os responsáveis pelo “culto do automóvel” e é um obstáculo a adoção de carros elétricos como contribuição para diminuir o trânsito louco das grandes cidades brasileiras.


O grande problema dos automóveis está na área por eles ocupada, requerendo dos poderes públicos cada vez mais vias para circularem. Não é, tipicamente, um meio de transporte, mas um brinquedo de luxo, como um quadro de arte pendurado na parede ou título nobiliárquico. Automóveis não têm nada a ver com transporte de passageiros. Existem meios mais racionais de transportar pessoas.


Se continuar escalada de fabricação de veículos como desejam os países em desenvolvimento não demora as vias das cidades estarão, de tal forma entupidas de veículos que o automóvel se tornará inútil para circulação, como vem mostrando a realidade das pequenas cidades. É provável que o automóvel se transforme num “totem”, bezerro de ouro consumidor das energias dos poderes públicos dos países em desenvolvimento do futuro.


Mas, este é assunto para urbanistas, políticos e filósofos.
“O motor de carros se comporta, termodinamicamente como miniusinas térmicas ambulantes, autônomas como a velhas locomotivas a lenha, que carrega seu próprio combustível e transforma diretamente a energia contida no combustível em energia mecânica de acionamento do veículo. Daí seu prestígio pela autonomia e potência para atender solicitações inesperadas de demanda. São ineficientes pelo processo, mas muito eficientes pelo “regime de velocidade”, acompanhando as inovações de modernas técnicas de fabricação (6000 RPM)”.




Vantagens econômicas do carro elétrico:


De concepção antiga — de mais de cem anos — o motor a combustão interna requer câmbio, para tornar o rendimento melhor em altas velocidades, alem do radiador e lubrificação interna, para dissipar calor em baixas velocidades, o que torna o desempenho do conjunto bateria/motor elétrico muito superior tanto no aspecto econômico quanto ambiental em relação ao do motor a combustão interna: custa menos, tem consumo menor e não polui.


O motor elétrico de corrente contínua já é especialmente projetado para ter alto conjugado de partida em baixas rotações de forma a ter potência constante, independente do trajeto. Nos aclives acentuados dispensa radiadores de refrigeração e nas descidas o freio eletromagnético permite a recuperação da energia potencial do veículo, devolvendo carga ao conjunto de baterias;
O motor a combustão envolve atenção contínua para o abastecimento de combustível, água do radiador e troca periódica de óleo, praticamente inexistente no motor elétrico de custo muito inferior.
Em relação ao veículo 100 % elétrico o motor a explosão requer uma série de dispositivos auxiliares, tais como embreagem, câmbio, radiador, motor de arranque e dínamo que tornam o custo de combustível e de capital mais elevado.
Alem da economia de combustível a recarga da bateria ocorre fora dos picos de demanda ou durante a noite — ocasião em que, ordinariamente, as hidroelétricas estão paradas, possivelmente vertendo água — o que torna o custo da geração praticamente nulo.


Resumindo: “o motor a combustão interna (ciclo Carnot e Oto) tem uma concepção muito antiga que vem resistindo às inovações tecnológicas ao longo dos últimos cem anos. È um dispositivo perdulário que consome muita energia para produzir pouco resultado em termos de energia útil no eixo do motor. Pode-se dizer que é um fim em si mesmo, isto é, grande parte da energia útil é consumida para uso próprio em dispositivos internos, necessários para reduzir o calor produzido pelas perdas que, praticamente, constitui 75% do total. Só consegue ganhar, em termos de desempenho, das velhas locomotivas a vapor, inclusive diesel-elétricas. Tipicamente, é u’a máquina de produzir calor.


Veículos híbridos


A opção por veículos 100% elétricos é ainda mais vantajosa quando comparada com a alternativa de veículos híbridos. Nesta, o custo de capital só faz aumentar com a adição do gerador acoplado, alem do que o rendimento será ainda mais baixo do que o rendimento do motor de combustão interna isolado. Alem do acréscimo de perdas do gerador acoplado é preciso levar em conta o rendimento de 75% da cadeia bateria/motor elétrico subseqüente. Enfim, uma redundância desnecessária de transformações que tornaria o rendimento total baixíssimo, em torno de 15%.
Mas, será que todas as vantagens são suficientes para justificar a substituição de parte da frota ou existirá impedimento de outra natureza?


Cadeia de conversão


Em termos de eficiência da cadeia de conversão energética, o veículo elétrico possui grande vantagem quando computados os rendimentos nos processos (Ildo Sauer, folha de 6/6):
— Economia de energia devido ao processo termodinâmico da transformação, muito mais eficiente na cadeia de conversão bateria/motor elétrico (75 %) do que no motor de combustão interna (25 %). Para produzir a mesma energia mecânica no eixo o motor a explosão requer cerca de três vezes mais energia do que o motor elétrico.
Mas a eficiência energética por si só não é o bastante. O que realmente conta é a eficiência econômica de todo o processo em termos de R$/Kwhora produzido no eixo do veículo, que, em última análise vai depender do custo relativo de cada insumo expresso na mesma unidade Kwhora. Ora o custo do combustível é subsidiado para proteger outros setores (transporte e produção de alimentos) enquanto a energia é tributada para evitar desperdícios no consumo domiciliar (chuveiros elétricos e eletrodomésticos) e isso leva a distorções que penaliza a opção carro elétrico.


Cálculo do custo para o consumidor
Dados:
Custo da gasolina na bomba 2.50 R$/litro
Custo da energia na concessionária 0.45 R$/Kwhora
Poder calorífico 12 Kwhora/litro
Rendimento do motor a combustão 25%
Rendimento do conjunto bateria/motor 75%


A queima direta de 1 litro de gasolina em um aparelho de aquecimento doméstico produz 12 Kwhora de energia sob forma de calor ao custo de 2.50 R$/litro. Logo, o custo unitário da energia calorífica será 0.21 R$/Kwhora (2.50/12).


A queima direta de 1 litro de gasolina em um motor de combustão interna produz 12 Kwhora de energia, dos quais 9 Kwhora (75%) são perdas que geram calor e 3 Kwhora (25%) é energia mecânica útil no eixo. Logo:
Custo para produzir 1 Kwhora no eixo (2.50/3) 0.84 R$/Kwhora


— O conjunto bateria/motor elétrico transforma 4/3 Kwhora de energia elétrica da bateria previamente carregada, pela qual paga 0.45 R$, em 1 Kwhora de energia mecânica no eixo do motor de acionamento da roda do veículo. Logo:
Custo do Kwhora mecânico no eixo do motor 0.45 x 4/3 = 0.60 R$/Kwhora
Uma economia de cerca de 25% que poderia muito maior se a energia não fosse tão tributada.


Ora, esta é uma economia muito pequena que não reflete os custos reais da eletricidade produzida no Brasil, considerada uma das mais baratas do mundo. A tarifa de 0.45 R$/Kwhora não condiz de forma alguma com o custo de produção das usinas do Rio Madeira, recém licitadas ao lance de — pasmem! — 8 centavos o Kwhora.


Se tivesse usado o custo real da energia produzida (sem impostos) a economia seria muito maior. Por exemplo, se tivesse usado o custo real da energia produzida nas últimas usinas licitadas do Rio Madeira e Belo Monte em torno de 15 centavos, incluindo transmissão e distribuição, o custo seria:
Custo do Kwhora mecânico no eixo do motor 0.15 x 4/3 = 0.20 R$/Kwhora
E a economia real seria de 75% com exclusão de impostos.

Cálculo do custo para o país


Observação:
Nos dois processos o Professor Sauer usa insumos diferentes, tal como se apresentam ao consumidor. No 1º usa o preço da gasolina na bomba e no 2º o preço da tarifa na conta de luz. Acontece que a energia é muito mais tributada do que a gasolina. Se tivesse usado o custo real da energia produzida (sem impostos) a economia seria muito maior. Por exemplo, se tivesse usado o custo real da energia produzida nas últimas usinas licitadas do Rio Madeira e Belo Monte em torno de 15 centavos, incluindo transmissão e distribuição, o custo seria:
Custo do Kwhora mecânico no eixo do motor 0.15 x 4/3 = 0.20 R$/Kwhora
E a economia real seria de 75% com exclusão de impostos.


Custa acreditar que o país que produz a energia mais barata do mundo tenha a tarifa de energia mais cara do mundo. Para se ter uma idéia basta observar que os lances vencedores das licitações do Rio Madeira e Belo Monte não passaram de 8 centavos o Kwhora (80 R$/Mwhora), cuja energia chega a nossas residências ao preço médio de 45 centavos/Kwhora, quase seis vezes maior. Na verdade, o custo poderia ser muito menor e possivelmente gratuito como foi acima mencionado: “alem da economia de combustível a recarga da bateria ocorre fora dos picos de demanda ou durante a noite — ocasião em que, ordinariamente, as hidroelétricas estão paradas, possivelmente vertendo água — o que torna o custo da geração praticamente nulo”.
Ou segundo cálculo do Professor Sauer:
No 1º processo o consumidor compra 1 litro de gasolina por 2.50 R$ e usa apenas 1/4 do conteúdo energético para gerar 3 Kwhora mecânico no eixo do motor de combustão de baixo rendimento
Custo do Kwhora no 1º processo 2.50/3 0.83 R$/Kwhora


No 2º processo o consumidor compra 4 Kwhora de energia por 0.60 R$ (4 x 0.15) para gerar os mesmos 3 Kwhora no eixo de um motor de maior rendimento (75%). Logo:
Custo do Kwhora no 2º processo 0.60/3 0.20 R$/Kwhora
Uma economia de 75% com os impostos excluídos.


Alternativas promissoras para carros elétricos


O Brasil é um dos mais bem aparelhados países para utilização de carros elétricos. Energia elétrica barata como fonte e insumo para a fabricação dos seus componentes, como baterias leves de lítio e alumínio para tornar menos pesadas as carrocerias dos carros elétricos. Para essa finalidade poderá contar com a eletrólise da corrente elétrica produzida por usinas hidroelétricas extremamente baratas como as que são construídas ao preço de 8 centavos/Kwhora no Rio Madeira e Xingu. Tem amplas margens de reduzir tarifas excessivas ou torná-las quase gratuita no processo de carga noturno.


Mas, dificilmente poderá tomar o lugar da indústria estruturada há mais de um século. Por menor que seja o custo de suprimento de energia elétrica a veículos 100% elétricos e mesmo que seja gratuito, não existe condição objetiva de concretizar o suprimento através da tomada do consumidor porque a estrutura da rede domiciliar não comporta recarga na escala requerida pelo conjunto bateria/motor elétrico***. Já imaginou o tamanho da conta de luz? Por outro lado, postos de serviços localizados em prédios de estacionamento teriam oportunidade de ampliação dos serviços de troca de baterias certificadas e carregamento.


Entretanto, nem a estrutura de serviço existente dos postos de combustível teria área suficiente para suportar carga de bateria com duração 5 a 6 horas diárias em locais de alto custo imobiliário. Já imaginou a dificuldade da carga em postos de gasolina, por horas seguidas?
***De qualquer forma, pequenos veículos 100% elétricos podem ser carregados pela rede domiciliar dentro dos limites da rede projetada para chuveiros elétricos até 60 amperes em 110 Volts.


Quando muito, os veículos elétricos servirão como 2ª opção para “famílias” que já tem “um” nos países em desenvolvimento, como meio de burlar o rodízio imposto aos veículos a combustível. Ou, em última instância, podem servir como 3ª opção para “pessoas” que já tem 2 veículos nos países industrializados. Enfim, servirão para carregar pessoas ou cortar grama nos campos de golfe, como já acontece nos países industrializados. Podem ter alguma utilidade para circulação de pessoas e cargas nas vastas áreas dos parques de exposição e nos entrepostos de distribuição de mercadorias (Walmart).


Tudo vai depender dos mecanismos que regulam a qualidade do ar e incentivos para redução de poluentes requeridos pela população. Por exemplo, permissão para circulação livre em áreas de lazer devido ao baixo risco e liberação do rodízio imposto a outros veículos.. Isenção de IPI, IPVA e ICM, tanto no veículo em si como na fabricação dos componentes e tarifas de energia elétrica.. Mas, se forem construídos para ficarem parados, como os demais a combustível, perdem sua principal função de circulação na região central das grandes cidades.
Hugo Siqueira, Cidade do Cabo Verde MG em 16/06/2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

HISTÓRIA DE BOIS

“O Melhor modo de conservar milho barato é dentro de sacos de couro de porco vivo”.
Dizer antigo.

Durante largo período prosperou a idéia de que o desenvolvimento fosse algo planejável através de elevados suprimentos de energia per cápita. Esta foi a essência dos grandes planos econômicos do século passado: planejar o futuro através da projeção de demandas crescentes verificadas no passado. (Planos Qüinqüenais, Planos de Metas, New Deal, etc.).
Pode parecer evidente que a idéia de que o desenvolvimento requer um grande aumento do uso de energia per cápita, assim como não há como negar que o uso de energia pode variar no tempo, em virtude do uso intensivo das principais fontes disponíveis: petróleo e potenciais hidroelétricos. A idéia não é mais tão evidente como foi no passado de abundância de recursos, nem as disparidades são tão acentuados.
Alguns (planejadores) chegavam ao extremo detalhe de relacionar de forma quantitativa essa idéia: “para que o PIB cresça 7%, o suprimento de energia precisa crescer a 10%”, como que predispondo suprimento com margem para garantir o crescimento do PIB per cápita. Essa era a tônica dos preâmbulos dos planos de desenvolvimento da década de 60.
Outra crença em voga na época era de que o quadro permanecesse independente das circunstâncias históricas. Na verdade, é muito difícil perceber e reproduzir as condições históricas que produziram desenvolvimento em alguns países e outros não. A idéia aceita universalmente de que “o desenvolvimento requer grande aumento no uso de energia per cápita” ou “a aceitação tácita de que energia produz desenvolvimento” é apenas uma comprovação óbvia de um passado com abundância de recursos. Hoje, num quadro de escassez, não é mais imprescindível o grande uso de energia para se ter crescimento do produto bruto per cápita, como demonstram alguns países do Leste Asiático que conseguiram o mesmo objetivo sem recorrer ao aumento expressivo do uso de energia. Simplesmente “queimaram etapas” intermediárias dos países industrializados, ao ingressarem na fase da economia dos serviços, das tecnologias da informação e da eletrônica. Algo semelhante é evidenciado pelas mudanças estruturais ocorridas nos países industrializados, que tambem cresceram com diminuição do consumo de energia, entre 1975 e 1983, coincidindo com a experiência inédita de cooperação espontânea entre transnacionais e países em desenvolvimento. Uma redução de 6% no uso total de energia no Japão e países da OCED foi acompanhada de um crescimento superior a 21% no PIB per cápita (46% no Japão). Nos Estados Unidos o descompasso foi mais impressionante: crescimento de 17% no PIB com queda de 12% no uso de energia per cápita. Estudos correlatos mostram que esta tendência vai continuar por muito tempo, não só pelas mudanças estruturais que estão ocorrendo na economia desses países, como pelas possibilidades de uso mais eficiente da energia. Países em distintas fases históricas têm formas diferentes de combinar fontes de energia e formas de uso mais adequadas e eficientes, regidas pelos princípios da termodinâmica.
“O uso de energia Depende da composição das atividades que utilizam energia nas distintas fases históricas que cada país atravessa. Depende tambem das tecnologias empregadas no caminho escolhido para o desenvolvimento. A necessidade de um serviço prestado pela energia depende da eficiência no uso-final e seleção das fontes mais adequadas. Uma considerável variação, tanto no uso agregado de energia como na composição das fontes de suprimento de energia pode constituir a base de um determinado nível agregado de atividade econômica” (José Goldemberg).
Entender como fontes e cargas estão relacionadas nas distintas fases que cada país atravessa, constitui a melhor maneira de por em prática os princípios que levam á formas eficientes de utilização da energia. Estas devem ser vistas com reserva porque o uso de energia não é o único fator de desenvolvimento e nem o desenvolvimento é um fim em si mesmo. Muito mais importante do que verificar a forte correlação histórica entre uso de energia e PNB é ver como os diversos países utilizam a energia. O Japão, por exemplo, utiliza energia de modo mais eficiente que os Estados Unidos. Enquanto este gasta três vezes mais energia (per cápita), seu padrão de vida (pib per cápita) não chega a ser o dobro. A China consome quase a mesma energia per cápita que o Brasil e, no entanto, seu PIB per cápita é apenas metade. O elevado crescimento da China não deve ser motivo de espanto. Países populosos naturalmente têm PNB elevado, o que não quer dizer nada. O crescimento segue uma tendência exponencial nas fases iniciais. Quando desenvolvidos tendem a saturação (logística). Então é perfeitamente natural que países pobres cresçam mais (exemplo da Albânia na antiga URSS).
Há uma aceitação tácita de que energia produz desenvolvimento. A simples constatação de que os países ricos são aqueles de maior consumo de energia per cápita, reforçada pelas enormes disparidades, tem levado a crença de que basta por a disposição quantidades expressivas de energia para o desenvolvimento ocorrer, quase por milagre. Planos econômicos postos em prática por indistintos países capitalistas ou socialistas, liberais, nacionalistas ou estatais produziram resultados em circunstâncias históricas de crise. De fato o desenvolvimento ocorreu, mas não se pode dizer se foi consequência dos planos ou apesar deles. Os grandes planos de aproveitamento múltiplo de bacias: Tenessee Valley Authority (TVA) dos Estados Unidos, Qüinqüenais da antiga URSS, Plano de Metas do Sistema Elétrico Brasileiro, etc, influenciaram demasiadamente os planejadores da época do desenvolvimentismo. Alguns trouxeram consequência desastrosas, como consequência da dependência do petróleo e de capitais externos que levaram países em desenvolvimento ao comprometimento de suas exportações, com negociação de dívidas a juros variáveis (era Reagan). Alguns aprenderam a lição o que permitiu a condição favorável de hoje.


O CULTO DO PLANEJAMENTO

O desenvolvimento dos países industrializados de hoje aconteceu sob condições inteiramente diversas. Os conhecimentos da época eram escassos, de forma que, considerações de eficiência não eram relevantes (o problema não continha os clássicos limites das condições de contorno). As mudanças ocorriam em ciclos estáveis que cabiam dentro do prazo de vida de uma pessoa, no decorrer de um industrialismo, que durou cerca de 300 anos. Um exemplo: as locomotivas a lenha de 1950 eram verdadeiras fábricas ambulantes, devoradoras de lenha e a vapor, de rendimento baixíssimo para acionar pistões. Hoje, com as mudanças ocorrendo a ciclos cada vez menores, qualquer trabalho que leve mais de cinco anos, será obsoleto na publicação.
“Não há como preparar países para enfrentar a globalização da economia: não há um mundo previsível para o qual se possa preparar algum país. A todo o momento, através de retro-efeitos (feedback) a vida irá se transformando segundo uma lei geral de probabilidades (auto-regulação). A tecnologia, em sua permanente criatividade, levou de roldão a estabilidade cíclica dos sistemas simbólicos (arquiteturas puramente ideológicas)” (Malshall McLuhan). Foi a estratificação do industrialismo que criou a necessidade de planejamento. O planejamento foi mais um instrumento de imobilização da vida (desestimulação da criatividade) que fator de reequilibração permanente. Os planos tinham por objetivo evitar a invenção. Velhos conceitos, puramente ideológicos (livre mercado, estatais, liberalismo), perderam totalmente o sentido com o fim das ideologias e o fim da história A palavra de ordem agora é “cooperação espontânea”. Como planejar um futuro, vivendo dentro das mudanças, que são verdadeiras mutações acontecendo e das quais não damos conta no tumulto das mudanças profundas? A atual crise vem demonstrando que os países não têm poder de ação relativamente às suas empresas transnacionais, cujos interesses se encontram mais fora de seus países de origem. Até países em desenvolvimento estão criando suas empresas Multiestatais (parece uma heresia): a Petrobrás, por exemplo. Os nacionalistas da Bolívia estão brigando com inimigos errados (Bush, que desocupa o cargo em dez meses), em lugar das “Trans”, como fizeram com relação ao Brasil, pervertendo o sentido do mercosul conforme fez o Índio e o bispo. O Mercosul, hoje, é uma mistura espúria de alucinados idealistas bolivarianos, todos iguais na pobreza e incapazes de constituir um bloco, impossível de acontecer. Aliás –como afirma o ditado caipira – “fazer sociedade com pobre, é o mesmo que pedir esmola pra dois”.
Essa era a tônica dos discursos da época dos grandes planos do sistema elétrico brasileiro, cujos preâmbulos se iniciavam com as afirmações: “para que o PIB cresça 8% a oferta de energia deve antes crescer 10%”, dando a entender uma estreita correlação entre o crescimento do PNB e a demanda de energia per cápita.
Entender o real significado de “economia no uso final de energia e escolha das alternativas promissoras e seus vetores energéticos”, cujo sentido parece claro por si mesmo, é de importância vital para compreender devidamente a que o professor Goldemberg está se referindo. A mensagem é a seguinte: por melhores que sejam os planos econômicos, estes não levam em conta o grande número de variáveis intervenientes, principalmente as condições históricas imprevisíveis e probabilísticas.
“A pior forma de reacionarismo é não levar em conta o tempo e ficar estacionado em um passado, que não foi tão bom quanto idealizado hoje, e não pensar que as coisas mudam a todo instante. A característica mais importante de nossos dias é a ”mudança e a surpreendente velocidade com que verdadeiras mutações ocorrem”. Velhos padrões perderam o sentido, tudo é ao contrário. Só velhos princípios ainda permanecem. Por enquanto.

A NATUREZA LIMITADORA DOS PRINCÍPIOS

A maneira mais eficaz de produzir calor é através da queima direta de combustível e, não por coincidência, o aquecimento é a maior demanda dos países industrializados de clima frio (58% nos Estados Unidos). O modo mais barato de produzir trabalho mecânico é a utilização dos potenciais hidroelétricos e a energia de acionamento é a maior demanda dos países em desenvolvimento (50%). Não é, por acaso, que os últimos potenciais inexplorados se encontrem nos países em desenvolvimento (700 Gw) tambem não é surpresa nenhuma que os combustíveis tenham se tornado escassos (fósseis e biomassa). Ambas as formas operam com elevados rendimentos tanto na produção (80%) quanto no consumo (cerca de 70%). As demais formas de energia têm rendimentos menores seja na produção e/ ou no consumo.
O transporte, maior consumidor de combustível, é a segunda maior demanda dos países industrializados (34%) e a primeira dos países em desenvolvimento (50%). No entanto, o mundo todo continua utilizando o motor à explosão, um meio bastante ineficiente de produzir energia de acionamento.
Alguns exemplos de utilização inadequada ou ineficiente:
• Queimar bagaço de cana é uma forma eficaz de gerar “calor de processo”, mas, não é a melhor forma de produzir eletricidade (térmica a vapor).
• A utilização de chuveiros elétricos é uma forma de esbanjar energia. Usar energia elétrica já produzida por termoelétricas convencionais ou nucleares para aquecer residências, que é maior necessidade dos países industrializados (58%), é uma forma cara e redundante de transformar calor em calor (ver figura 1).
Ironicamente, o aquecimento solar direto, que, sem dúvida, é a melhor forma de produzir calor, não está plenamente disponível para os que dele mais precisam os países de clima frio. Nos países tropicais, é desnecessário.
A humanidade toda se sente ameaçada ante a possibilidade que venha faltar alimentos, terra, combustível. As preocupações são genuínas. Mas, devemos lembrar que a humanidade já se confrontou com problemas maiores no passado. A melhor maneira de afastar esses temores e ganhar tempo, até que novas tecnologias estejam disponíveis, é investigar como demanda e oferta de energia se combina no presente, bem como sua evolução futura. Cada país deve fazer a escolha das melhores alternativas de produção e consumo de energia, como aponta José Goldemberg no seu trabalho premiado “Energia para o Desenvolvimento”, de 1988, cuja principal conclusão é a seguinte:
“Os países em desenvolvimento não deveriam trilhar os mesmos caminhos de desenvolvimento do Norte, mas buscar novas direções e assumir os riscos da inovação em áreas especialmente promissoras”.
Em lugar de prever o futuro, países em desenvolvimento devem ler o passado, não para copiar, mas para não incorrer no erro de soluções que se tornaram inviáveis naqueles países, simplesmente porque as condições mudaram. Ao invés de planejar, os diversos países devem “garimpar” as alternativas promissoras próprias.
Os países em desenvolvimento não precisam, necessariamente, repetir os mesmos passos dos países industrializados, evitando assim escolher alternativas que se tornaram inviáveis nestes países. Podem queimar etapas com melhores escolhas. Nem os países industrializados precisam, hoje, retroceder ao passado do industrialismo para proteger seus empregos.
Conclusões de Malshal McLuhan, o papa da comunicação, referenciado por L.O. Lima em “Mutações em Educação segundo McLuhan”, 1982, 16º edição, Vozes RG:
“Mas terá cabimento, num país subdesenvolvido, tomar-se como meta a reflexão vinda de (McLuhan) de uma civilização pós-industrial como a americana? Muitos pensadores estão convictos de que a reflexão prospectiva – dedução do statu quo dos países altamente desenvolvidos – é a melhor solução para os países subdesenvolvidos: assim, esses países evitarão incorrer (por ensaio e erro) nas soluções que hoje se mostram inadequadas naqueles”. Por outro lado, o processo civilizatório atual -- dentro das defasagens internacionais – mostra que é possível queimar etapas: a eletronização da Amazônia, por exemplo, é uma comprovação de que se pode antecipar as comunicações que (se tivessem que seguir as etapas históricas) passariam antes pelas estradas a pé, a cavalo, por água, estradas de rodagem, estradas de ferro e, finalmente pelo avião, antes de chegar as microondas e aos satélites”.
As circunstâncias históricas mudam de tal forma que muitas soluções, consideradas anacrônicas, podem ser ressuscitados com sucesso, graças à nova tecnologia da biogenética. Assim, o aço brasileiro baseado em carvão vegetal, vista por muitos como anacrônica, compete bem nos mercados, atualmente, porque sua indústria está muito mais adiantada em relação à antiga tambem baseada em carvão vegetal, há muito abandonada pelos países industrializados, alem do que a tecnologia da biogenética favorece países tropicais. As árvores utilizadas na Suécia levam trinta anos para serem aproveitadas, enquanto as florestas cultivadas do Brasil são cortadas com seis anos. Os ganhos de produtividade das florestas cultivada no Brasil aumentaram em cinco vezes, pelo emprego de “clones” de eucalipto e melhores técnicas de cultivo e de aproveitamento do carvão vegetal. È um feito surpreendente que mostra o caminho a ser seguido pelos americanos e chineses que insistem nas grandes siderúrgicas a carvão mineral. O próprio “Gasogênio”, uma relíquia do passado da segunda guerra, pode ser ressuscitado como uma alternativa promissora para países pobres carentes de petróleo, mas ricos em biomassa.
Para ilustrar o descasamento entre países e como etapas podem ser queimadas, recorremos às conclusões de trabalho do autor destas linhas:
Como, fatalmente toda energia do futuro passará pela queima de algum combustível, este fato não representa desvantagem para os países em desenvolvimento, ao contrário dos países industrializados que recorrerão à energia nuclear, mais cara, para obterem energia de aquecimento. Quando houver predominância de térmicas nos países em desenvolvimento, estes poderão afinal ficar livres do “critério de risco”, utilizado pelos planejadores na década de 50: as novas usinas hidroelétricas da Amazônia não precisarão estar condicionadas ao atendimento da carga em qualquer circunstância, como antes, quando o sistema foi exclusivamente hidroelétrico. Estas, bem como as atuais hidroelétricas, não serão mais responsáveis pelo atendimento das solicitações instantâneas da carga, que passará a ser suprida ocasionalmente pelas termoelétricas (de custo fixo mais baixo) que serão maioria. Tambem funcionarão a plena potência em todas as condições de vazão, a qual não precisa ser garantida. A “energia garantida” não precisará ser aquela do “Período Crítico”, mas a máxima que as hidroelétricas puderem produzir, em qualquer condição de vazão, limitada apenas à potência instalada de cada usina. Mesmo que não exista carga, esta poderá ser criada artificialmente para a produção sazonal, a baixo custo, de comodities metálicas de alto valor agregado, intensivas em energia elétrica (eletrólise a quente), tornando assim em instrumento eficaz de planejamento da produção industrial. A excessiva motorização das usinas hidroelétricas atuais, que foi motivo de muitas críticas, como “obra faraônica”, agora por motivo de mudanças históricas, felizmente encontra uma alternativa bastante promissora de utilização (“O Sistema elétrico do Brasil”, janeiro de 2005, do autor).


O PAPEL DO COMBUSTÍVEL NO PRESENTE

Com raras exceções, toda forma de energia a ser utilizada em larga escala no mundo todo, passará, de uma forma ou outra, pela queima de algum combustível. Nem a energia nuclear, esperança do futuro, escapa do processo ineficiente da transformação de calor em energia elétrica. Isto significa que os países Industrializados vão ter que disputar preços elevados de combustíveis com os países em desenvolvimento ou, como última instância serão obrigados a utilizar energia nuclear a custos muito maiores, em razão dos baixos rendimentos inerentes ao processo de transformação.
Duas transformações são especialmente privilegiadas pelos altos rendimentos do processo, tanto na forma de produção quanto no consumo: energia elétrica de origem hidráulica e queima direta de combustível. Energia hidroelétrica é a mais preciosa, tanto pelos baixos custos quanto pelas facilidades no uso. Nos países industrializados, os primeiros a crescer no período do industrialismo, todos os potenciais disponíveis, obviamente, já foram utilizados. A queima direta de combustível é a forma mais eficaz de produção de calor e se adapta bem ao perfil dos países industrializados, concentrada na demanda por aquecimento.

“A energia hidroelétrica e a biomassa, promissoras fontes de energia renováveis, responderam pela metade da energia primária usada nos países em desenvolvimento em 1980. Contudo, as fontes renováveis poderiam dar apenas contribuições relativamente limitadas para o suprimento de energia requerida pelo mundo todo. Apesar de os países em desenvolvimento terem explorado apenas sete por cento de seus recursos hidroelétricos, o potencial econômico total desses recursos é de cerca de 700 GW. Os recursos da biomassa são limitados pelas restrições ao uso da terra impostos pela baixa eficiência da fotossíntese. Somente uma pequena fração destes pode ser explorado como bioenergia, porque as florestas devem servir a muitos propósitos, inclusive o de habitat da para a fauna selvagem” (José Goldemberg e outros).
Energia elétrica, de origem hidráulica ou nuclear, poderia substituir a queima de combustível a custos maiores, como vem acontecendo. Mas, não se adaptam bem ao perfil da demanda dos diversos países: Países industrializados (geralmente de clima frio) queimam combustível que é a forma eficaz de produzir calor (2º princípio) e tambem queimam combustível para acionamento de veículos. Não é casual, portanto, que os países industrializados tenham um consumo de combustível ajustado à demanda. De fato, nestes países o petróleo é responsável por 92 % da demanda de aquecimento e transporte. Países em desenvolvimento queimam combustíveis para produzir e transportar alimentos.
A energia elétrica é usada adequadamente nos países em desenvolvimento que têm potenciais hidroelétricos ainda inexplorados (Brasil, China). Outras formas de energia estão sendo utilizadas em pequena escala como fontes de calor em diversos países: eólica (Estado Unidos e países escandinavos); geotérmica (Islândia); usinas de biomassa (Brasil). Ironicamente, até o aquecimento solar direto, que parece uma solução natural, não encontra condições favoráveis de utilização: países de clima frio, os mais necessitados, estão sujeitos ao escasso sol de inverno, enquanto que, nos países tropicais o aquecimento é desnecessário (entretanto não é ainda praticado no Brasil que utiliza o “anacrônico” chuveiro elétrico para aquecimento).
A extrema dependência do petróleo, como fonte quase única de suprimento de combustíveis aliado ao atual quadro de incertezas quanto ao futuro da globalização vem despertando o ressurgimento de velhos temores: “o fim do petróleo”, “a falta de terras”, “o fim da energia”, “o fim do trabalho”, etc. Esses temores estão associados a duas necessidades vitais que dependem fundamentalmente de energia para serem satisfeitas. Países de clima frio, industrializados ou não, dependem do petróleo para aquecimento; Países em desenvolvimento dependem do petróleo para alimentação.
A dependência do petróleo como única fonte produtora de energia, tem levado a utilização da terra como um recurso na produção de um combustível alternativo, o que leva a suspeita de que esta seja tambem um recurso limitado, tanto quanto o petróleo.
Na verdade, todos os recursos serão sempre limitados, na medida dos nossos desejos. O mundo já se confrontou com o problema da escassez de recursos anteriormente e, muitos deles, anunciados de forma catastrófica, encontraram solução natural, com ajuda da ciência disponível a época (Clube de Roma, Profecias de Malthus). Agora mesmo estamos diante de novas ameaças de poluição, aquecimento global e mudanças climáticas, algumas sem a devida comprovação científica. As afirmações grifadas anteriormente constituem “expressões de retórica”, destituídas de significado objetivo. São expressões ambíguas no sentido da extensão e condições a que elas se referem. Muitos autores têm usado indevidamente, por exemplo, a palavra “recurso limitado”. --O que querem dizer, exatamente, quando afirmam que o petróleo é um “recurso limitado?” --Limitado no tempo e no espaço (100 anos, por exemplo, excluída a Antártica e o pólo Ártico)? A experiência tem mostrado que, toda vez que o preço do petróleo se eleva subitamente, novas descobertas de petróleo surgem (Mar do Norte, Alasca, costa brasileira).--Quem, em “sã consciência”, pode afirmar que depósitos fósseis, acontecidos ao longo de bilhões de anos, sob as mais severas condições de pressão e temperatura no interior da terra, podem acabar de uma hora para outra, em poucos anos do “industrialismo”? É muita presunção. Ainda bem que os países industrializados não levem muito a sério esse tipo de ameaça, que mais parece uma “seita”.
O petróleo é uma comodity como outra qualquer, cujo preço, 50 centavos de dólar é pouco superior ao da soja pronta para o consumo. O que torna o seu uso atraente são seus múltiplos componentes, depois da destilação: gasolina, diesel, querosene, óleo combustível, etc. A importância do petróleo vai muito além do seu uso imediato como combustível. Alem de essencial para o atendimento de necessidades presentes, no futuro sua importância será ainda maior, devido aos componentes que pode fornecer, para obtenção de bens que se tornarão “escassos”. O petróleo pode vir a fornecer outros bens como fertilizantes, plásticos do futuro, produtos da química fina, etc., em lugar de ser usado apenas como combustível, quando podem ser encontrados combustíveis líquidos mais simples, derivados da cana e celulose. Uma alternativa promissora, para países que dispõem de combustíveis alternativos é a ”estocagem do petróleo” para utilização futura, quando novas tecnologias estiverem disponíveis e a melhor forma de estocar petróleo é a “não exploração” dos poços conhecidos.
Esta é a razão principal que justifica a procura de combustível alternativo em lugar de aceitar limitações “a priori”.


CONCLUSÕES PROVISÓRIAS

Todas as formas de energia provem do sol, a exceção da nuclear. A energia hidroelétrica é renovada a cada temporada de chuvas, mas, uma vez utilizados todos os saltos potenciais, não permite aumento. A energia dos combustíveis fósseis é tambem uma energia potencial depositada ao longo de bilhões de anos do trabalho da fotossíntese. Por ter sido cumulativa (como o raio x), é infinitamente maior que a energia hidroelétrica. Por esta razão, não somos ingênuos de imaginar que tenha chegado ao fim, com apenas trezentos anos do industrialismo. Agora mesmo estão sendo descobertas de petróleo a sete quilômetros de profundidade, na costa brasileira.
No passado o desenvolvimento ocorreu pela utilização de recursos abundantes da natureza que era o modo mais natural, compatível com o conhecimento da época. Hoje, o desenvolvimento deve ser buscado com formas mais engenhosas de utilização da energia. Uma das formas de economizar energia é deixando de gastar, mudando o tipo de atividade, conforme fizeram os países industrializados e alguns emergentes. Outra forma é tentar repor recursos que deram origem aos combustíveis fósseis, plantando novas árvores, ainda que sejam insuficientes. Uma terceira é produzir e gastar a energia de modo mais eficiente. Por incrível que possa parecer, esta é uma das maiores “fontes disponíveis”. A primeira, só mudar de atividade não é o bastante. Significa transferir a outros a responsabilidade de produzir transporte e alimento para os novos consumidores que continuarem necessitando energia para atender necessidades mais prosaicas como aquecimento e alimentação. Afinal nem todos poderão mudar para outras atividades ao mesmo tempo. Alguns permanecerão responsáveis pelo trabalho pesado, consumidor de energia. Os países industrializados poderão comprar energia, trocando por produtos tecnológicos (quinquilharias eletrônicas), ou então, produzir sua própria energia nuclear, ineficiente para aquecimento, a preços muito mais elevados (cerca de 6000 dólares por Quilowat)
É surpreendente que a nova tecnologia da informação e da eletrônica, que produziram tantos resultados, tenha encontrado apenas soluções parciais para problemas, que pareciam menores, como aqueles relacionados com a vida concreta do ser humano, no sentido mais estreito da palavra: sua existência animal e primitiva, como alimentação, aquecimento, circulação e transporte. Atividades biológicas do ser humano concreto exigem gasto de energia que não pode ser suprida apenas por alta tecnologia. O transporte e energia, não podem ser virtuais. A novíssima tecnologia da biogenética já está produzindo aumentos substanciais de produtividade nas plantações de cana e florestas cultivadas. A nova tecnologia da biogenética, utilizada no Brasil em florestas cultivadas (clones de eucalipto) aumentou a produtividade da indústria do aço a partir do carão vegetal em mais de três vezes. No futuro próximo, quando esta tecnologia tiver maior aceitação por parte do público, talvez venha a mudar todo o panorama da produção de alimentos protêicos.
Não obstante as alegadas razões ambientais, a prospecção de petróleo continuará em expansão, dada a sua grande importância estratégica.
Nos próximos capítulos vamos verificar quais atividades podem ceder lugar ao etanol, verificando o consumo de combustível futuro: terra para criação de bovinos e transporte de matéria prima, seguindo o conselho de José Goldemberg: “Os países em desenvolvimento não deveriam trilhar os mesmos caminhos de desenvolvimento do Norte, mas buscar novas direções e assumir os riscos da inovação em áreas especialmente promissoras”.
Por incrível que possa parecer, a mais valiosa fonte de energia permanece subutilizada: “o uso mais eficiente da energia disponível e a escolha das alternativas promissoras de produção e seus vetores energéticos”. José Goldemberg (Energia para o desenvolvimento, 1988) e (An End-use Oriented global Energy Strategy,” Annual Review of Energy, 1985, ) citado no trabalho “Energy for a sustainable World” do World Resource

O PAPEL DO COMBUSTÍVEL NO FUTURO

O ingresso na economia de serviços e alta tecnologia vêm diminuindo a importância do transporte dos países industrializados, uma tendência verificada no fim do século que prossegue até os dias de hoje (ver Tabela 1). Até no automóvel, que parecia um grande consumidor, o consumo de combustíveis não cresce por falta de usuários. Milhões de carros são fabricados para ficarem parados no trânsito, nos estacionamentos e garagens, como objeto ornamental. Com mais de um veículo por habitante (2,5 nos Estados Unidos), é impossível ao usuário ocupar mais de um ao mesmo tempo (só se tivesse o dom da ubiqüidade), o consumo depende das viagens. Alem da necessidade de locomoção de pessoas ser naturalmente reduzida numa economia de serviços, acresce o fato de estar acontecendo mudanças de hábito para carros mais econômicos. O transporte pesado tambem perde importância numa economia de bens desmaterializados. Ademais, a distribuição de mercadorias pode contar com a eficiente estrutura herdada do industrialismo.
Os países industrializados podem economizar energia de aquecimento, pois têm condições de adotar tecnologias mais eficientes. Afinal, detendo 70 por cento da energia gasta no mundo todo, tem mais onde cortar. Por mais que economizem energia no usofinal, entretanto, ainda continuam grandes consumidores: consomem mais energia de aquecimento que os países em desenvolvimento consomem em alimentação. Tambem dispõem de capital para bancar nucleares mais caras, no caso mais extremo. Ao contrário, os países em desenvolvimento, vão ter de produzir os seus próprios combustíveis e, sobretudo, os alimentos (grãos) para alguns países industrializados e emergentes.
As mudanças profundas no modo de produzir dos países industrializados foram abordadas por vários autores ao longo da década de 70, do último século: José Goldemberg e outros em “Energia para o desenvolvimento” de 1988; Alvin Toffler em “A Terceira Onda” de 1980. No livro recente “O Mundo é Plano”, de 2007, Thomas L. Friedman descreve, com riqueza de detalhes, como está ocorrendo o processo globalização no mundo todo.
Os países em desenvolvimento e os industrializados estão descasados no que concerne ao seu desenvolvimento industrial. Nestes, o mundo já presenciou o desacoplamento do consumo de energia e atividade econômica: O PNB cresce e o consumo per cápita de energia diminui como mostra a tabela 1.
Países industrializados e países em desenvolvimento estão descompassados no que concerne ao desenvolvimento industrial. Nos países industrializados, a maior parte das inovações está ocorrendo nas áreas de eletrônica, tecnologia da informação, comunicações e outros campos de alta tecnologia. A demanda mudou de produtos intensivos em materiais para aqueles caracterizados por elevada relação entre valor agregado e conteúdo de material. A estagnação na demanda de materiais básicos tem criado um clima desfavorável nas indústrias a eles relacionadas, apesar dos aumentos do preço da energia na última década terem tornado obsoletos muitos investimentos nestas indústrias. Assim, em indústrias de importância crucial para estabelecimento de uma infra-estrutura o ritmo de inovação no Norte não é suficientemente rápido para satisfazer as necessidades do Sul. O rápido crescimento potencial da demanda de materiais básicos no Sul sugere tambem que alguns países podem oferecer melhores condições para inovações do que os países do Norte.
Muitas das tecnologias industriais, atualmente comercializadas no Norte, são intensivas em capital que não se ajustam aos países do Sul. As vantagens relativas de recursos naturais são muito diferentes. Países em desenvolvimento têm a fortuna de possuir recursos hidroelétricos inexplorados de custo baixo, enquanto os países industrializados têm de fazer uso da energia térmica – mais dispendiosa – para aumentar a capacidade elétrica. A biomassa é uma fonte promissora de combustíveis químicos para muitos países em desenvolvimento, requerendo tecnologias descentralizadas de desenvolvimento muito diferente das estratégias centralizadas de países ricos em combustível fóssil (José Goldemberg). Indústrias que utilizam calor de processo são proibitivas no Norte. A nova tecnologia da biogenética favorece o cultivo de florestas artificiais nos países tropicais produzindo ganhos de produtividade na siderurgia e indústria cerâmica e de refratários. O bagaço da cana pode ser queimado em cerâmicas.
Vejamos quais seriam as escolhas no sentido de adequar as fontes de suprimento às demandas de cada país no futuro. É claro que os países industrializados utilizarão combustíveis para aquecimento direto preferivelmente as termoelétricas e hidroelétricas tendo em vista a sua demanda concentrada principalmente no aquecimento em 58%.
Tambem é claro que países em desenvolvimento utilizarão energia elétrica (hidroelétricas e termoelétricas) para acionamento industrial considerando que a demanda de acionamento corresponde a 50%. Nos países em desenvolvimento que têm potenciais hidroelétricos ainda inexplorados (Brasil, China) a energia elétrica é usada adequadamente, conquanto os potenciais disponíveis sejam pequenos, mas suficientes para atender a demanda de seus próprios países por décadas (da ordem de 700 GW).
“A energia hidroelétrica e a biomassa, promissora fonte de energia renovava, responderam pela metade da energia primária usada nos países em desenvolvimento em 1980. Contudo, as fontes renováveis poderiam dar apenas contribuições relativamente limitadas para o suprimento de energia requerida pelo mundo todo. Apesar de os países em desenvolvimento terem explorado só sete por cento de seus recursos hidroelétricos, o potencial econômico total desses recursos é de apenas 700 GW”. (José Goldemberg e outros).
O transporte pesado requer combustível em todos os países, industrializados ou não. Mas, a demanda no futuro será diferente para cada tipo de país. Nos países industrializados a demanda é decrescente, enquanto nos países em desenvolvimento tende a aumentar (inclusive automóveis). Com a população estabilizada e o consumo per cápita de energia em declínio, países industrializados não são mais os responsáveis pelo aumento da demanda de energia como mostra a tabela 1. O transporte pesado perde importância, numa economia desmaterializada, baseada em serviços e o consumo de automóveis é decrescente por ter atingido o nível de saturação física, com mais de um automóvel por habitante. Todo aumento populacional ocorrendo nos países em desenvolvimento estes é que serão os grandes consumidores de combustível para a produção e transporte de alimentos, porque são os que mais crescem.
Combustível líquido (da cana e madeira) substitui gasolina. É útil para países em desenvolvimento, cujo consumo em automóveis cresce. Mas, não substitui diesel e óleo combustível. Não resolve o problema dos Países industrializados, mas libera gasolina para aquecimento e para o transporte por caminhões leves na distribuição, que desafogam o trânsito nas grandes cidades. As recentes aplicações de outras formas de energia para acionamento de veículos (carros elétricos) têm pouco significado para países industrializados: apenas trocam várias fontes ineficientes descentralizadas (o motor do automóvel) por uma única fonte centralizada, igualmente ineficiente (termoelétrica). Basta lembrar que hidrogênio e termoelétricas gastam tambem combustível. Mas, beneficiam enormemente os países em desenvolvimento que dispõem de hidroelétricas e do etanol.


COMBUSTÍVEL PARA AQUECIMENTO

O combustível é especialmente valioso porque é a forma mais eficaz de produzir aquecimento, adequado ao perfil do consumo dos países industrializados que está concentrado na demanda por combustíveis para aquecimento e transporte. Estes utilizam fundamentalmente o petróleo, mas poderiam utilizar etanol produzido nos países tropicais a preços concorrentes. Gerar calor por meio de usinas termoelétricas, inclusive nucleares, é um desperdício como mostra a figura 1. Mas, nada impede que venha a ser utilizada, como recurso extremo, apenas terá custos maiores.

Crescimento per cápita do consumo de energia e PNB em %
OCDE EE.UU JAPÃO
Energia -6 -12 -6
PNB 21 17 46
Tabela 1 - Crescimento do consumo de energia e PNB per cápita nos países industrializados no período 1973 a 1985.

COMBUSTÍVEL PARA ALIMENTOS

O custo do transporte, até agora visto como uma variável independente, não incide igualmente em todos os setores. Incide pouco sobre produtos tecnológicos, mesmo com preços elevados do petróleo. Já o mesmo não acontece com os produtos básicos. No setor primário, o custo da produção e transporte de insumos básicos é fortemente dependente do combustível. Nem a globalização da economia se processa de maneira idêntica e simultânea nos diversos setores da economia, privilegia os produtos mais valiosos. No estágio atual, de fato, o processo de globalização vem ocorrendo, sem obstáculos, em setores de serviços e de alta tecnologia. Componentes tecnológicos valiosos podem ser reunidos e redistribuídos de e para diversos países, quase sem custos. São transportados por aviões, alguns deles virtualmente, como softwares. No setor primário, entretanto, a globalização encontra resistência pelo elevado custo da produção e transporte de mercadorias baratas. Necessidades biológicas como alimentação, aquecimento, circulação, transporte exige gasto de energia que não pode ainda ser suprida por alta tecnologia. Em outras palavras, Energia e transporte não podem ser virtuais.
Até recentemente parecia que a globalização do setor primário fosse seguir os mesmos passos, isto é, insumos básicos de baixo valor como grãos poderiam ser transportados ao redor do mundo para alimentar animais de países industrializados e alguns emergentes. Mas, sucessivas altas no preço do petróleo encareceram a produção e o transporte dos grãos, acompanhando o preço do petróleo. Até os subsídios, praticados pelos países industrializados, se tornaram inócuos, como medida capaz de conter a valorização das comodities agrícolas. É claro que a globalização da economia no setor primário vai seguir um caminho distinto, porque a livre circulação de mercadorias baratas ao redor do mundo intensifica o uso de combustível. Até o petróleo requer combustível (o próprio petróleo) para ser produzido e distribuído. Cotado a 120 dólares o barril na bolsa de Nova York, é uma comodity como outra qualquer, cujo preço, 74 centavos de dólar o litro, é pouco superior ao da soja, cotada a 54 de dólar o quilo na bolsa de Chicago. As novas descobertas em mar profundo dificilmente conseguirão produzir petróleo a um custo inferior ao preço atual.
A terra é outro fator que concorre para mudança de rumo da globalização no setor primário. A utilização da terra para produzir um combustível alternativo em larga escala, apenas troca um recurso limitado por outro. A terra é um recurso tão limitado quanto o petróleo, dizem. A substituição de toda a gasolina contida no petróleo, apenas para consumo de automóveis em todo mundo, vai exigir uma quantidade de terras que pode ser satisfeita à custa da redução da área destinada à criação e engorda extensiva de bovinos que é menos eficiente. Mas, esse não é o problema principal. Algum setor será atingido, e ainda assim, o problema continuaria irresolvido. Faltaria combustível para aquecimento e acionamento de termoelétricas, que continuaria dependente do petróleo. O maior concorrente da produção de grãos e combustível é a extensa área destinada à criação de bovinos. A produção de carne bovina deverá passar por uma reformulação, diante da exigüidade de terra disponível para criação. Conquanto a tecnologia da seleção de linhagens já permita abreviar o tempo de permanência de bovinos no pasto, o mundo todo não dispõe de terra suficiente para atender ao consumo mínimo de carne bovina no presente e no futuro. Só alguns países, com disponibilidade de terra para cria de gado poderão dar-se a esse luxo. A nova tecnologia da biogenética, utilizada no Brasil em florestas cultivadas (clones de eucalipto) aumentou a produtividade da indústria do aço a partir do carão vegetal em mais de três vezes. A produção de alimentos geneticamente modificados pode tornar possível o aproveitamento direto dos grãos na alimentação humana, dispensando a cria de bovinos como fonte de alimentos protêicos. No futuro próximo, quando esta tecnologia tiver maior aceitação por parte do público, talvez venha a mudar todo o panorama da produção de alimentos protêicos.
O atual quadro de incertezas reinante nos organismos internacionais acerca do futuro da globalização está criando um clima de pânico generalizado que levam alguns a pensar: Ou os cultos representantes dos blocos de países (G-8, G-5, G-20) estão mal informados, o que seria inadmissível, ou estão informados demais e, por questões diplomáticas, não querem dizer o que pensam o que seria um fato lamentável diante da atual crise Americana.

CRISE DE ALIMENTOS OU CRISE DE ENERGIA

Nos organismos internacionais a atual crise dos alimentos é tratada com tamanha superficialidade que leva a suspeita de ignorância ou certa dose de má-fé. Causa estranheza que cálculos simples, utilizando apenas aritmética, não sejam compreendidos pelos cultos chefes de estado que, afeitos a decisões políticas de magna importância, bastaria a eles uma simples consulta a qualquer cientista para ter a ajuda imediata: “as duas coisas estão relacionadas. Entretanto, é muito mais fácil produzir energia de aquecimento e alimentos calóricos (cereais, legumes e frutas) do que alimentos protéicos (carne)”.
Quando a atual crise das comodities é abordada genericamente nos organismos internacionais, os representantes dos diversos países utilizam a expressão “crise dos alimentos” -- um argumento diplomático mais visível e comovente, contraposto ao etanol -- para se referirem ao grão, milho e soja, que importam para alimentar animais. Ora, o grão não é, tipicamente, um alimento do ser humano. Ele os consome, em quantidade significativamente menor que os animais, é claro, na forma de cereais e em conjunto com outros alimentos energéticos. Guardadas as proporções, os animais é que são os grandes consumidores de grãos, especialmente os bovinos. Soja e milho concentram 82.4% da produção agrícola brasileira de 2008. Apenas 7.6% correspondem aos outros alimentos energéticos (Arroz, trigo, feijão, batata, mandioca e outros). Na verdade o mundo não carece de alimentos energéticos, mas de alimentos protêicos como a carne, especialmente a carne bovina, que não consegue produzir em quantidade satisfatória por insuficiência de terra combustível.
Se o temor é o de perder os fornecedores de grãos, isso já está acontecendo: ao melhorarem de vida, os asiáticos desejam pelo menos um décimo do consumo dos países industrializados (100 kg anual por habitante nos Estados Unidos), e não apenas alimentos energéticos como arroz, trigo e animais exóticos.
Paradoxalmente, os representantes dos países industrializados, presumivelmente mais cultos, parecem não levar muito a sério as questões ambientais (Estados Unidos, China) enquanto os representantes dos países em desenvolvimento são os que mais se preocupam. Em plena era da globalização, com as mudanças ocorrendo, problemas cruciais como “Aquecimento Global” e “O Fim dos Recursos Mundiais” - que são problemas de todos, mas não são de ninguem – encontra um tratamento paroquial, cada país buscando a solução de curto prazo para si próprio, que atenda seus interesses imediatos. Países industrializados parecem mais preocupados com o fim dos recursos mundiais, de curto prazo, do que com as mudanças climáticas, cujos efeitos são anunciados para o fim do século. Seu maior temor é de que países em desenvolvimento venham a utilizar energia da forma predatória, como eles o fizeram no passado e, com isso, tenham que compartilhar recursos escassos como petróleo para aquecimento de residências e, grãos para sustentar a produção de alimentos protêicos em seus países (carne).


CRISE DE ALIMENTOS: TERRA PARA ALIMENTOS ENERGÉTICOS.
Quais alimentos? Cereais ou carne?
Parece intuitivo que produzir alimentos energéticos é tão fácil como produzir energia para aquecimento. Segundo cálculos aritméticos do professor R. C. Cerqueira Leite a quantidade terra necessária para suprir as necessidades alimentares energéticas da humanidade é de apenas 400 milhões de hectares, com a população de 10 bilhões (Folha, 6/1/2008).
Entretanto, produzir alimentos protéicos, como carne bovina, é muito mais complicado: exige a criação e engorda de bois que consomem, obviamente, 10 vezes mais grãos do que os cereais consumidos pelo ser humano. Se a cria e engorda do rebanho bovino é o principal concorrente da produção de alimentos e combustíveis, a providência natural seria a sua limitação, com abate de animais precoces ou a substituição por animais menores, não ruminantes. Tudo isso já vem acontecendo: frangos de trinta dias, porcos de três meses, bois de dois anos, etc, como resultado do desenvolvimento de novas linhagens e novas tecnologias da biogenética.
A terra pode ser utilizada de quatro maneiras principais: cultivo de alimentos energéticos para o homem; cultivo de grãos para animais; pastos de criação de bovinos e cultivo de plantas para a produção de combustíveis.
Países que dispõem ainda de áreas agricultáveis como Estados Unidos utilizam seus recursos de maneira eficiente subsidiando a produção de grãos para criação intensiva de bois em confinamento e, assim, evitar o excessivo transporte de mercadorias baratas. Confinamento de 200 mil bois, em uma única unidade, é prática comum. Ao contrário do que muitos pensam, não produzem grãos subsidiados para exportação, o que seria antieconômico. O Brasil tambem subsidia produtores de grãos através de juros negativos.

CRISE DE ALIMENTOS: TERRA PARA PRODUÇÃO DE GRÃOS E CARNE.

A produção de carne é o elemento chave de toda a questão, por exigir terra, tanto para a cria gado, como terra para a produção do grão, necessário para o confinamento de bois, que são os principais concorrentes da produção de alimentos e cana. Só para se ter uma idéia: o rebanho brasileiro de 210 milhões de cabeças supera a população e ocupa 200 milhões de hectares (um boi médio por habitante).
Conquanto as necessidades protéicas do ser humano sejam cerca de cinco vezes inferiores as necessidades energéticas, ou seja, 40 kg anuais por habitante, as necessidades de grãos para os bois conseguirem esta produção, são deis vezes maiores, quando confinados, ou seja: o dobro da quantidade para fim energético. O limite estabelecido pela FAO de 1,5 bilhões de hectares talvez seja atingido: A preocupação desse órgão das Nações Unidas é genuína. Como conclusão: não é a produção direta de alimentos energéticos para o ser humano que traz preocupação, mas a produção indireta de grãos para os bois que comem dez vezes mais.
A produção de um alimento protéico, como a carne bovina, requer transformações químicas e orgânicas muito elaboradas, de rendimentos muito baixos, característicos da vida.


PEQUENO HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DE BOIS

“Um grande problema” foi criado no momento histórico em que os ocidentais decidiram expandir a criação dos grandes ruminantes para a produção e aperfeiçoamento da produção de carne bovina como alimento protéico. Se tivessem permanecido como ruminantes talvez os problemas já tivessem encontrado uma limitação natural, pela falta de recursos.
Podemos dizer que a criação de bovinos seja invenção ocidental, iniciada na Europa e se alastrando depois pelas colônias da América e Oceania, durante o período do industrialismo. Os holandeses inventaram a vaca holandesa. Os ingleses criaram as linhagens de alta produção de carne (Aberdeen-Angus). O rebanho brasileiro (Zebu) tem sua origem na índia, que praticamente não consome carne, por ser animal sagrado. Países do leste asiático não têm rebanhos onde a pesca é sua fonte principal de alimentos protéicos. Países populosos do leste asiático consomem carne suína, aves e frutos do mar. Países de clima frio têm dificuldades para manter rebanhos.
A utilização da carne bovina como fonte de alimento protéico se tornará de tal forma proibitiva que acabará em privilégio de uns poucos países como Brasil, Argentina, Austrália e Estados Unidos, que ainda têm áreas de cria de gado não ocupadas com outras atividades mais eficientes. A maior limitação decorre da necessidade de um rebanho de 1,6 bilhões de cabeças, insuficiente para um consumo democrático de apenas 10 Kg / habitante ano, com a população final da humanidade em 10 bilhões de habitante. Nem mesmo a população atual de seis bilhões pode ser contemplada. A limitação é física, em termos de área, seja em regime extensivo ou confinado, pouco importa. É o processo que se tornou inadequado: o ser humano criou um animal para produzir alimento protéico com o qual não pode conviver, porque é um concorrente na ocupação do território. A criação extensiva de bois continuará, enquanto existirem áreas montanhosas inadequadas para qualquer outro tipo de uso da terra. Mas, certamente a carne bovina como alimento protéico se tornará uma iguaria, possível somente àqueles países com disponibilidade de terras para cria de gado.

TERRA PARA PASTAGENS

A criação de gado de forma extensiva é utilizada por países com grandes áreas geográficas como Brasil, Estados Unidos, Argentina e Austrália. O rebanho brasileiro supera a população e ocupa 200 milhões de hectares (um animal por habitante)
Tudo se resume em uma questão de eficiência do processo de transformação, conhecido como “taxa de conversão” do grão em carne. Pequenos animais não ruminantes, que constituem a base da alimentação de muitos países, como frangos e suínos consomem pouco: de 2 a 5 Kg de ração para cada Kg de carne produzida, respectivamente. Estes animais não requerem áreas de criação, pois são confinados desde o nascimento. Bois consomem muito mais: de 8 a 10 Kg de ração para a mesma quantidade de carne produzida. Biologicamente, o complexo organismo desses ruminantes é adaptado para o consumo de gramíneas, por isso requerem grandes áreas de pastagem para ficarem circulando, por até quatro anos, pisoteando e defecando sobre seus próprios alimentos, e desperdiçando energia vital. Até três anos, tudo o que consomem de energia é para eles próprios, para crescerem e viverem simplesmente. Entretanto, contrariamente a sua própria natureza, foram tambem ensinados a comer grãos em confinamentos, fato que, em suma, gerou toda a sorte de problemas mencionados.
Os Estados Unidos utilizam um artifício inteligente: subsidia grãos, a custa dos contribuintes. Neste caso perdem dinheiro, caso o excedente fosse exportado. Entretanto usam grãos subsidiados para confinar bois. Com o alto valor agregado da carne (seis reais), voltam a ganhar dinheiro. Unidades de confinamento para 200 mil bois são práticas correntes. A busca de valor agregado pode tambem ser um objetivo brasileiro, limitando a exportação de grãos, o que não é bem visto pelos países importadores. Como o preço dos grãos sobe mais depressa do que a carne e como o confinamento não é viável no Brasil, uma alternativa promissora para evitar pastagens degradadas é a exportação da tecnologia de bois precoces, na forma de “boi em pé, na qual o país tem tradição de mais duzentos anos”. Nesta forma, o boi precoce é exportado vivo junto com os grãos e alimentado durante a viagem.

NECESSIDADE DE GRÃOS E TERRA DISPONÍVEL
DESCRIÇÃO PESSOAS BOIS BOIS + PESSOAS CRIA DE BOIS ÁREA TOTAL
Consumo / tipo Cereais Carne Grãos Grãos Pastagens
Consumo anual por habitante em kg 200 40 400 600
Anual para a população
Bilhões de toneladas 2 (0.4) 4 6
Área de cria 7000
Milhões de hectares 400 800 1200 7000 8200
1,6 bilhões de bois
Tabela 2- Necessidades alimentares e terra disponível. (só carne bovina)
Área necessária para um consumo humano anual por habitante de 200 kg de cereais e 40 Kg de carne bovina:
Tipo de criação
Criação confinada Criação extensiva
Cereais 400 400
Grãos 800
Cria 7000 7000
Engorda --- 3000
Total 8200 10400

Tabela 3 - Comparação entre atividade extensiva e confinada.
O confinamento de bois desocupa 2200 milhões de hectares líquidos, ou seja, troca área de pastagem para engorda (3000) por área de cultivo de grãos (800), mas, a área de cria permanece alta e acima do disponível. Como existe pouca área disponível no mundo para cria de gado, é possível que o boi perca importância para frangos e suínos como fonte de alimento protéico. Com a seleção de linhagens, o mais provável é que venham a ser criado o boi precoce, cujo objetivo é reduzir o tempo de permanência de bois no pasto.
Abaixo é feito um cálculo das necessidades de terra para o mesmo suprimento de alimento protéico, de 40 Kg anuais / hab, agora composto por 20, 10 e 10 Kg, respectivamente, de frango, porco e boi.







NECESSIDADE DE GRÃOS ÁREA OCUPADA
DESCRIÇÃO Das pessoas Dos animais Total Cria Total

Tipo / consumo Cereais carne Grãos Grãos Pastagens
Anual por hab --Kg 200 40 200 400
Taxa de conversão:
Frango...2.5 Kg /Kg 20 50 100
Porco.....5.0 Kg /Kg 10 50 100
Boi.......10.0 Kg /Kg 10 100 200
Consumo Anual da População
Bilhões toneladas 2 (0.40) 2 4

Frango (0.2) 0.5 1 --
Porco (0.1) 0.5 1 --
Boi (0.1) 1.0 2 3500

Área necessária
Milhões de hectares 400 400 800 3500 5100
Tabela 4- consumo anual de 200 Kg de cereais, 20 Kg de frango, 10 Kg de porco e 10 Kg de boi.
A tabela 5 mostra que mesmo reduzindo o consumo anual de carne bovina para apenas 10 kg por habitante a área de cria permanece elevada, apesar da redução de 3100 milhões de hectares na área total.

REDUÇÃO DA ÁREA OCUPADA COM CONFINAMENTO EM HECTARES
1º caso 2º caso
Consumo de 40 kg/hab/ano Só boi Frango, porco e boi.
Energéticos 400 400
Grãos 800 400
Cria de bois 7000 3500
Total 8200 5100








Tabela 5 - Área ocupada com redução do consumo de carne bovina
Conclusão: A carne de boi é proibitiva como fonte de alimento protéico, mesmo nas quantidades ínfimas de 10 Kg / hab/ ano, o que corresponde a um bife de 30 gramas diárias, menor que um “Danoninho”. A produção de carne bovina deve ficar restrita (localmente) àqueles países que têm terra suficiente seja para cria de bovinos como para a produção de grãos. Os demais países, com insuficiência de ambos os fatores, não têm alternativos senão importar a carne pronta de outros países.
O grande temor, manifestado diversas vezes nos organismos internacionais (FAO) é não existir área suficiente no mundo para os diversos países alimentarem animais em seus territórios como produtores de carne. Nesse particular, têm razão, posto que os limites sejam bastante estreitos: 400 milhões de Hectares para alimentos energéticos; 400 milhões de Hectares para alimentar animais que produzem alimentos protêicos e mais 3500 milhões de Hectares para criação de bois. Têm receio de um boicote, semelhante ao proposto na Argentina, restringindo a exportação, o que tornaria mais caros os grãos. Em suma, temem a formação do “cartel dos grãos”, semelhante ao da OPEP.
Bem, as preocupações não terminam aí. Este aspecto abordado constitui apenas á metade do problema geral, cuja outra metade se refere ao elevado custo do transporte de mercadorias baratas, a ser tratado no próximo capítulo.


TERRA PARA PRODUÇÃO DE COMBUSTÍVEL

Ainda segundo os cálculos aritméticos do professor Cerqueira Leite, “para substituir todo o combustível fóssil consumido hoje por etanol, incluídas tecnologias que aproveitassem integralmente todo o resíduo linho-celulósico da produção de álcool, cereal e madeira, seriam necessários 400 milhões de hectares”, tal a facilidade na produção da energia de aquecimento. Essa é a razão do sucesso do etanol brasileiro que não é devidamente compreendida pelos representantes dos países industrializados. A cana é um planta energética por excelência. A produtividade anual média no Estado de São Paulo é de 85 toneladas de cana por hectare, enquanto que a produtividade do milho é de 10 toneladas e a da soja é de 4 toneladas por hectare. Tudo na cana é transformável em combustível, enquanto a soja, que é uma oleaginosa, pequena quantidade de energia pode fornecer. É por essa razão que não vale a pena extrair combustível de grãos de soja (ou de grãos de milho)
“Um bom substituto para o petróleo deve ser encontrado naquilo que constitui a sua origem que são as florestas e plantas energéticas”.
Argumentos surrados, utilizados pelo governo brasileiro, de que o etanol não concorre com a produção de alimentos não são bem compreendidos pelos representantes dos países industrializados. Não precisa explicar, por exemplo, que a área de cana é inferior a 2% da a área de pastagem e inferior a 10% daquela destinada à produção de alimento. A explicação é óbvia, para qualquer físico, medianamente informado.


O PESO DO TRANSPORTE

Outro fator, relacionado com o anterior, que não tem sido levado em consideração é o peso excessivo do transporte de mercadorias baratas, como grãos, incidentes na composição do custo do principal alimento requerido pelos países emergentes: a carne bovina.

O rebanho brasileiro, 210 milhões de cabeças é maior do que a população, ocupando 200 milhões de hectares. Se os outros países utilizassem o mesmo processo extensivo (um hectare por habitante) estariam utilizando sete bilhões de hectares e certamente 14 bilhões quando a população dobrasse. Como resolvem? Alguns que têm áreas de cria, Importam grãos e confinam bois. Mesmo assim a área de pastagem continua grande, concorrendo com a produção de alimentos energéticos. Daí a grande importância dos grãos na alimentação de animais e da carne para alimentação humana.

A carne se tornou o alimento mais requerido no mundo todo, especialmente agora, em razão do maior crescimento dos países em desenvolvimento. Entretanto, é o que mais requer energia e o que mais agride o meio ambiente ao ser produzido. Os demais alimentos fazem parte de um “mix” (arroz, milho, mandioca, trigo, soja, etc.) que são específicos de cada região e os países em desenvolvimento, maiores produtores e consumidores (China, Brasil e Índia), já os produz localmente, cada um especialista nos produtos que consome. Asiáticos são especialistas na produção de arroz; países europeus e americanos produzem trigo em grandes quantidades; mexicanos e brasileiros produzem milho e mandioca, etc. Depois da revolução verde, as questões alimentares crônicos que afligiam países populosos como China e Índia foram resolvidas, no que respeita a produção de alimentos energéticos.
Como conclusão deste capítulo: a mudança de hábitos e valores mais saudáveis de comer carnes brancas (de que fala o especialista Paul Robert a seguir), não é apenas de caráter de saúde, recomendada pelos médicos, mas tambem de natureza econômica. De fato, o consumo anual de 100 quilos por habitante nos Estados Unidos chega a ser um exagero, que só produz obesidade. Hábitos e valores dependem da cultura.

CRISE DE ENERGIA: AQUECIMENTO E MOVIMENTO

O valor da energia depende fundamentalmente das diferentes formas como produção e consumo se processam: a produção e consumo de energia podem ser classificados em duas grandes categorias: energia de aquecimento, cuja produção depende da queima de combustível; energia de movimento mecânico, cuja produção depende tanto da queima de combustíveis (termoelétricas com rendimento de 30%), quanto de potenciais hidráulicos (hidroelétricas com rendimento de 90%). Ambos, produção e consumo são regidos pelo segundo princípio da termodinâmica, que em termos simples quer dizer:
“É sempre mais fácil produzir energia de aquecimento (residências) através a queima de combustível, diretamente, do que produzir energia mecânica (máquinas)”. Em outras palavras: energia potencial hidráulica se transforma em energia elétrica de forma direta e eficiente, enquanto a energia de aquecimento só é eficiente para produzir calor. A primeira é nobre e a segunda vulgar.


ENERGIA de AQUECIMENTO

Produzir energia para aquecimento é tão fácil quanto produzir alimento energético. Todas as formas de produção de energia disponíveis atualmente, com exceção da energia hidroelétrica e a eólica, passam, de uma forma ou de outra, pela queima de algum combustível. Nem a fusão e fissão nuclear -- esperanças do futuro – escapam do processo rudimentar e ineficiente da transformação de energia de aquecimento em energia mecânica de movimento. As implicações deste fato são cruciais para o preço da energia, preço dos combustíveis, preço dos alimentos, todos inter-relacionados, e da forma como serão distribuídos os encargos entre os países industrializados e emergentes.
Porque o etanol é uma boa alternativa?
Quase todo o consumo de energia nos paises industrializados está concentrado, primordialmente, no aquecimento de residências e acionamento de veículos. Apenas 8% é consumido em outras atividades, incluindo máquinas de acionamento industrial.
Atualmente, o suprimento de energia é, fundamentalmente, de origem térmica, pois, todo o potencial hidroelétrico disponível já foi utilizado. Podemos dizer, então, que toda produção de energia utiliza combustível, seja para aquecimento direto, seja para acionamento de veículos.
Ora, da mesma forma que é fácil produzir alimentos energéticos, tambem é fácil produzir energia para aquecimento: basta queimar combustível diretamente. A queima direta de combustível é a forma correta de produzir calor, sem passar pelas fases intermediárias que violam o “segundo princípio”. Países industrializados não utilizam os anacrônicos chuveiros elétricos, ainda utilizados no Brasil: seria um absurdo tecnológico. A melhor forma de utilização neste caso é o aquecimento solar.
Resumindo: Se quase toda energia é de aquecimento, suprida pela queima de petróleo, a melhor forma de substituir petróleo é queimando um combustível semelhante, isto é: da mesma origem. Se o petróleo tem origem em florestas decompostas, o combustível substituto deve ser procurado em florestas atuais. Se aproveitada integralmente, inclusive o bagaço, a cana é um produto energético altamente produtivo. Assim, tambem florestas cultivadas poderão ser fontes energéticas eficazes se for desenvolvida tecnologia apropriada de transformação da biomassa em combustíveis líquidos. O etanol substitui a gasolina do petróleo, mas pode vir a substituir tambem o óleo combustível, atualmente usado nos países de clima frio. Não existe razão alguma para que seja condenado. È a melhor solução para o momento.
Qual é o segundo temor dos diversos países e que tambem já ocorreu?
É o de serem privados do fornecimento de grãos para produção de carne nos seus próprios países. De fato, é um temor genuíno, porque a produção de grãos nos países em desenvolvimento é um dos processos mais gastadores de combustíveis em face da grande quantidade de mercadorias transportadas. O mundo como um todo está transportando demais: São navios, trens e caminhões repletos de grãos e matérias primas baratas, em grande quantidade. A maneira óbvia de evitar que os gastos de combustíveis ocorram é evitar os transportes inúteis. Como? Descentralizando a produção de carne, produzindo-a nos países produtores de grãos. Pode parecer um desejo nacionalista, mas não é bem assim: É o mundo todo que está gastando combustível de maneira inadequada.
O terceiro temor é o de que países atrasados gastem de maneira predatória os recursos da natureza, da mesma forma que os industrializados o fizeram no passado. Isto realmente ocorre em países que queimam florestas para aquecimento e para criação extensiva de gado. Como evitar que isto aconteça? Uma alternativa promissora é o cultivo de florestas. Outra consiste na redução do rebanho, uma vez comprovado que a carne bovina não é uma forma adequada de suprimento de alimentos protêicos, quer na forma extensiva como em regime de confinamento.
Como se pode depreender, consumo e produção se casam perfeitamente, evidenciando claramente a tendência de queda no consumo de energia nos países industrializados. A forma de uso inadequado de combustível é para acionamento de veículos, o que leva a uma constatação surpreendente: a forma da transformação de energia é ineficiente, pois, o rendimento dos motores de veículos (ciclo Otto e Carnot) é muito baixo. Em outros termos: os motores atuais dos veículos são arcaicos: produzem mais calor do que trabalho mecânico. Precisam ser reformulados, ou então, os veículos serem abandonados como forma de locomoção. Entretanto, o consumo de combustível não depende do número de carros, mas das viagens. Alem de o consumo ser decrescente nos países industrializados, o carro é produzido para ficar parado, porque seus donos não têm tempo para deles se utilizarem (600 milhões nos EE.UU). Quando o número de carros por habitante se aproxima de um, sua utilidade como meio de locomoção decresce. O que realmente pesa no consumo de combustível é o transporte pesado.


ENERGIA MECÂNICA

Produzir energia para aquecimento é fácil, difícil mesmo é produzir energia mecânica para a movimentação de máquinas industriais. A maneira mais eficiente e barata de atingir este objetivo é a usina hidroelétrica. Os rendimentos elevados da transformação permitem a produção e transporte de maneira mais econômica do que aquela utilizada por outros meios. Entretanto, o potencial disponível é pequeno, cerca de 700 mil MW em todo o mundo .