No que respeita à oferta de alimento, o custo do transporte e distribuição são os fatores decisivos: A incidência do transporte no custo final do grão produzido é 10 vezes maior do que a incidência do transporte no custo final da carne. Custa mais transportar grãos do que produzir. Em termos comparativos, seria semelhante a exportar cana para produção de álcool em outros países.
O Brasil que abastece um terço da carne bovina negociada no mundo com um produto de alta qualidade, não precisa, necessariamente exportar grãos para produzir carne em outros países. Não é mais fácil produzi-la aqui mesmo, localmente? Raciocinando globalmente: não é mais eficiente exportar carne de boi confinado do que exportar grãos com os quais os bois se alimentam durante toda a sua vida?
Em termos de agregação de valor a possibilidade da criação de gado confinado é tentadora: imaginem a grande vantagem de exportar carne com os grãos já processados dentro do boi confinado e, sobretudo, deixando por aqui todo o resto (50%). Os antigos já sabiam disso, ao dizerem:
“O melhor modo de conservar milho barato é em sacos de couro, de porcos (bois) vivos”.
VANTAGENS DO CONFINAMENTO
Já vimos que, do ponto de vista da área ocupada, o confinamento de bois apenas troca uma área de cultivo por outra de criação extensiva. Neste particular seriam equivalentes. O confinamento, entretanto, tem vantagens marginais que não podem ser desprezadas:
O tipo de terra trocada não tem a mesma característica: terra de cria pode ser montanhosa, imprópria para o cultivo mecanizado de grãos. O confinamento ocorre com animais adultos mais pesados (12 arrobas) que produziriam maior pisoteamento e maior degradação dos pastos, se permanecessem em cria extensiva.
Por ser uma prática mais elaborada e intensiva em mão de obra, permite agregação de valor dos dois produtos: carne e grãos.
Oferece boas oportunidades de complementação com outras atividades, trocando resíduos e insumos entre as mesmas. No Cerrado Mineiro está se tornando habitual o plantio de cana, cultivo de alimento, fabricação do etanol e confinamento de bois em uma mesma unidade agroindustrial que contempla várias atividades em um mesmo lugar e ao mesmo tempo. O composto orgânico utiliza bagaço, subproduto do etanol, para compor a cama dos bois no confinamento, da qual resulta o adubo orgânico para lavouras de cana e grãos. O bagaço pode ser usado na alimentação animal.
A criação de gado solto, entretanto, só é mais barata para alguns, porque não leva em conta um fator oculto nos cálculos de custo-benefício: o valor do patrimônio ambiental. E não o fazem pelo simples fato de não saberem como avaliá-lo em termos monetários. É um valor intangível, portanto subjetivo. É uma opção política, por isso crucial.
TRANSPORTE DE INSUMOS BARATOS
Algo semelhante ocorre com os outros insumos básicos, cujo exemplo mais característico é o minério de ferro, uma das mercadorias de mais baixo valor. Estados Unidos e China persistem na produção de aço com carvão mineral, transportando milhões de toneladas. Se a produção de aço fosse transferida para o Brasil o impacto global seria menor e o transporte, que consome combustível, seria imensamente menor. --como? Comprando o produto acabado, como é o caso da carne. O Brasil encontra alternativas promissoras na produção de metais valiosos como alumínio, zinco e estanho, os quais utilizam energia hidroelétrica, abundante na Amazônia. No entanto exporta minério, que abusa do transporte.
Em resumo: o confinamento de bois é uma atividade mais elaborada que permite a produção local, de forma descentralizada e com agregação de valor dos dois produtos, grãos e carne. Aliado a produção de alimentos e combustíveis alternativos integra inúmeras atividades em uma mesma área que se complementam, pela necessidade de rotação de culturas: cultivo e processamento industrial de alimentos, reforma de pastagens, criação de gado, cultivo grãos e alimentos e produção de biocombustíveis de forma descentralizada e local, por grandes e pequenos produtores em regime de parceria. Evita operações intermediárias de transporte de mercadorias de baixo valor em meios gastadores de energia. Em lugar de se confrontarem, como mutuamente exclusivos, os três objetivos podem ser atingidos simultaneamente por ser complementares em uma mesma área, disponibilizada pelas áreas de pastos degradados. Ao mesmo tempo a floresta seria preservada com a eliminação gradativa da criação ineficiente em regime extensivo.
A solução não está na melhora do transporte, mas na sua eliminação. Toda a infra-estrutura dos transportes -- que só vai servir a exportação de produtos primários (grãos e minérios) -- pode se tornar ociosa quando bens acabados forem produzidos localmente (carne e aço). Quando isso acontecer, os bens mais valiosos, com pouco conteúdo em material, serão transportados, para os quais a infra-estrutura atual é suficiente.
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